sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Moção de Repudio
Moção de RepudioCaxias do Sul, 20 de dezembro de 2011.
Moção de Repudio aos Fatos Relatados Abaixo:
Racismo em Caxias do Sul
No último sábado (17/12) promovi, juntamente com o San Pelegrino Shopping Mall de Caxias do Sul o evento “Maratona Esportiva”. O evento inédito no RS reuniria 25 modalidades esportivas e de dança. Durante a apresentação de Capoeira, no sábado, final da tarde, fui abordado por um senhor, acompanhado do chefe de segurança, que se identificou como proprietário do shopping. Apontando para um grupo de capoeiristas negros, falou: “Não quero este tipo de gente aqui no meu shopping!”. Ordenou também que a equipe de segurança encerrasse o evento imediatamente. E não satisfeito com isso, em seguida, mandou o chefe de segurança me comunicar que o Evento do domingo estava cancelado. O prejuízo financeiro e moral foi muito grande, pois a maioria dos Campeonatos aconteceriam no domingo e muitos atletas já estavam na cidade ou se deslocariam para o evento. Meus Amigos lhe pergunto? Que tipo de gente pode frequentar o referido shopping?
O referido acontecimento está registrado na Polícia Civil sob o número da ocorrência 44981/2011 em 19/12/2011.
Vilmar Oliveira
O Grupo de Capoeira Conquistador da Liberdade, na pessoa do Mestre Brasil, e todos seus integrantes dos 17 bairros de Caxias do Sul, e das 5 cidades do Uruguai, vem através deste repudiar as atitudes lamentáveis de discriminação contra as Artes Marciais e a Capoeira, no referido evento do sábado (17/12) no San Pelegrino Shopping Mall.
A Capoeira é patrimônio da cultura brasileira, e em Caxias do Sul é o maior meio de integração racial, que trás em seus ensinamentos a disciplina das artes marciais. O método desenvolvido em nossa cidade é cultural, a educacional e a esportiva, e vem ao longo dos anos desenvolvendo o resgate dos vínculos familiares, pregando o amor aos pais e a sociedade em geral. É integrada a cultura caxiense prevenindo contra a drogadiçãp e a educando crianças, adolescentes e adultos.
Eu, Mestre Brasil, por tudo que esta cidade me deu(educação, carinho e amor, etc.) me sinto no dever de não me calar diante do que esta acontecendo, desta agressão sofrida contra a capoeira e as artes marciais, que foram descriminadas, pois lendo o boletim de ocorrência, percebemos que o proprietário do referido estabelecimento não queria as artes marciais no local, a gota d´água foi a capoeira, por ser uma cultura afro.
Parabenizamos o Sr. Vilmar Oliveira que demonstra ser um grande cidadão, incluindo a capoeira no evento e nos colocamos á disposição do Sr. Vilmar para fazermos juntos o enfrentamento contra a agressão moral e práticas que não cabem mais nos dias de hoje.
Finalizamos afirmando que, não aceitamos esta discriminação contra a capoeira - capoeiristas e contra a cultura afro em nossa cidade.
E em nome do “Sangue do Povo Negro” que deu a vida para a construção deste país, exigimos uma explicação da Direção do San Pelegrino Shopping Mall.
Não á descriminação. Sim á Integração Racial.
Parabéns Sr. Vilmar Oliveira por sua atitude e por não se calar diante deste fato lamentável.
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
domingo, 11 de dezembro de 2011
sábado, 10 de dezembro de 2011
CONFIRA A ENTREVISTA DO MESTRE BRASIL
CAXIAS DO SUL - Homem simples, de fala mansa e que demonstra muito conhecimento, sobretudo da raça negra. Este é o senhor Diógenes de Oliveira Antônio Brasil, ou simplesmente “MESTRE BRASIL”.
Nascido em Vacaria no dia 11 de agosto de 1960, numa família de nove irmãos, aos 16 anos foi morar em Curitiba. Em 1976 veio para Caxias do Sul, trabalhou na UCS, auxiliou na construção do prédio daquela que é hoje uma das maiores universidades do Brasil. Lá permaneceu até 2002, quando então decidiu sair para levar adiante alguns projetos de vida.
O seu envolvimento com a cultura iniciou em 1979. Em 1980 conheceu o Mestre de Capoeira, Índio, oriundo da Bahia, daí o seu envolvimento com a cultura afro, através dessa arte milenar.
Passou a estudar e entender a tudo que diz respeito à Capoeira e em 1984 ensinou o que havia aprendido em Flores da Cunha, pelo fato de que ainda era um terreno desconhecido, queria saber do quanto isso tinha a aceitação dentro da etnia daquela terra, sendo uma porta de entrada para que seguisse em frente e perpetuasse seus ensinamentos por muitos outros lugares. Em Flores da Cunha recebeu o apoio através de um padre, que via na capoeira, uma oportunidade de interação e doutrina entre os jovens.
Enfrentou o problema da falta de entendimento pelo fato das suas idéias confrontarem com outras muito diferentes. Para muitos, na vila não havia a menor possibilidade de inclusão através da cultura, mas nem por isso deixou de acreditar. Aos poucos isso foi sendo dissipado, as pessoas entenderam que a falta de educação e cultura não era exclusividade das classes menos favorecidas.
Em 1989, 1° de setembro, Mestre Brasil fundou o grupo de Capoeira Conquistador da Liberdade, para ratificar tudo aquilo que havia pensado no momento em que decidiu seguir esse caminho.
Mas o caminho sempre teve dificuldades, como em todo segmento a política está presente, era hora de algum tipo de envolvimento também nesse campo, por conta disso, Mestre Brasil sofreu perseguição política. Já não era o Diógenes que estava ali realizando aquilo que mais sabia fazer, ensinar capoeira e sim o Mestre que arregimenta jovens para a prática de uma arte aliado ao esporte e por esse motivo, representava uma ameaça.
“Fui usado, confesso, em função da minha boa fé e pela falta de conhecimento. Não tinha a mínima idéia de como encaminhar as pessoas, orientá-las na resolução dos seus problemas comuns do cotidiano. Muitas vezes acaba remetendo para as pessoas erradas que só queriam se aproveitar da situação e isso foi algo que prefiro esquecer”, enfatiza Brasil.
Doutrinando a cultura da paz
“Todo o ensinamento que por ventura passei para outras pessoas, meninos, meninas, vem daquilo que adquiri junto aos meus pais. Eles me ensinaram que jamais eu deveria pregar o ódio e a falta de ética. Sempre quis provar e acabei conseguindo que a educação através da cultura e a doutrina da cultura afro poderia dar certo, o tempo me provou que estava certo”.
Aceitando as críticas e as limitações
“Descobri que toda a crítica e elogio que recebi até hoje me ajudaram bastante. Sempre procuro antes de absorvê-las, ver a razão disso tudo.
Em 2004 tentamos levar nosso conhecimento sobre Capoeira para a Alemanha. Aquele país, ao contrário do que muitos pensam, sentiu a necessidade da abertura, eles viram na capoeira a possibilidade de aproximação com os jovens. Faltaram recursos para que isso pudesse se concretizar”.
Abertura numa terra de predominância italiana e alemã
“O Mestre Brasil em Caxias e em muitos lugares é tratado como uma personalidade. Nunca planejei isso, nunca quis ser conhecido através da capoeira e fazer disso um modo de promoção, talvez isso fosse o caminho que encontrei também para poder mostrar a cultura afro.
Tivemos alguns avanços nesse sentido pelo fato de poder proporcionar o debate. Caxias é uma cidade diferenciada, pela percepção do seu povo da sua importância.
Precisamos, no entanto olhar com mais atenção para aqueles descendentes de escravos que baixam a cabeça e não lutam. Igualmente precisamos acabar com a cultura de alguns descendentes dos ‘senhores’ que andam com a cabeça erguida como se fossem donos dessa terra.
Está havendo aos poucos a segregação racial, justamente através dos muitos movimentos que surgiram ao longo dos tempos. Mas nada justifica o racismo. Infelizmente isso se dá sempre em função da aquisição de terra, da ocupação dos espaços e do poderio econômico. Isso é fruto da ignorância. Existe um pequeno grupo maldoso e outro grande de ignorantes que impedem que as coisas avancem.
Em Bento Gonçalves, por exemplo, o atual prefeito prometeu que abriria espaço para os negros, o que acabou não acontecendo. Isso é uma lástima, porque não dá para imaginar que não se dê valor àqueles que também ajudaram a construir aquele município. Com certeza a iniciativa de valorizar seria um grande avanço político e social. Ainda dá tempo, é preciso agilizar o processo e por mãos à obra.
Aqui em Caxias, a criação da Coordenadoria da Igualdade Racial, ainda no governo Pepe Vargas abriu espaços para que todos de forma igualitária sejam incluídos em todas as discussões. Sabemos que falta muito ainda, mas o fato positivo é a continuidade através da administração Sartori. Graças a isso, estamos gradativamente implantando e semeando idéias para os próximos governantes”.
O que ainda falta nesse processo
“Falta direcionamento para o afro descendente, que ele se assuma como negro, que conheça a história do negro no Brasil e no mundo. Que possamos tomar como exemplo a nossa história.
Temos aqui em Caxias exemplos vivos da participação dos negros em todos os setores. No comércio, na indústria, na política e principalmente na cultura e no esporte.
Existe ainda o nosso carnaval, a valorização e a maior manifestação popular do Brasil. Aqui em Caxias está provado, a comunidade está aos poucos redescobrindo o carnaval.
Não podemos, no entanto ficar revoltados com atitudes racistas. Devemos nos manifestar e mostrar para o racista o seu erro”. (Foto Ponto Inicial/Por Laudir José Dutra)
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